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Karol Conká apresenta 'Urucum', seu intenso álbum de estúdio; entenda o conceito do projeto

Em entrevista ao eolor, Karol classifica o álbum como um projeto de 'verdade, libertação e intensidade'

(Foto: Jonathan Wolpert)


Em fevereiro de 2021, Karol Conká era eliminada do “Big Brother Brasil” com uma rejeição recorde. Fora do programa, encontrou o julgamento implacável, o ódio e a agressividade de milhões de pessoas por sua conduta no jogo. O caminho que encontrou para enfrentar tudo — seus próprios demônios, os demônios de seus haters — foi o mesmo ao qual recorre desde menina: a música. Dois meses depois da eliminação, em abril, entrou em estúdio com o produtor Rafa Dias (RDD, do ÀTTOOXXÁ) e preparou as canções que agora aparecem reunidas em seu quarto álbum, “Urucum” (Sony Music).


Numa entrevista exclusiva ao eolor, em conversa com o jornalista Arthur Anthunes, Conká conta detalhes sobre o processo criativo em torno do álbum, as mensagens e reflexões durante o processo criativo, sua parceria com Rafael Dias, sua paixão pela música baiana e esse novo momento de descobertas, recomeços e reflexões em sua trajetória.


"Esse álbum eu defino como um convite para a intensidade. Ele tem uma capa intensa, a cor é vermelha - que é minha favorita - e é intensa. É um convite para sentir intensamente, refletir intensamente, entender intensamente e se permitir intensamente", declara Karol Conká sobre o "Urucum".

(Foto: Jonathan Wolpert)


Ao longo das 11 faixas, Karol expõe o que viu ao olhar para dentro de si — mas também para dentro das engrenagens da máquina de ódio que se ergueu fora dela. Sem rancor, sem autocomiseração, sem vingança. No lugar desses sentimentos menores, a potência afirmativa de quem se sabe viva — potência que vibra nos versos papo reto e nos beats de calor baiano de RDD (Rafael Dias).


"A mulher preta ela já nasce sendo um alvo. Quando uma mulher preta atinge certa visibilidade ela já está na mira, qualquer passo errado fora do que querem ela já um alvo. Errou? é cancelada. Errou? é exterminada", conta Karol sobre 'Mal Nenhum', ao realizar dentro da faixa uma análise em autoconhecimento para entender o que é sua carga e o que não é.


"Eu queria ver se era isso mesmo, eu pensava: 'mas não é possível, isso não é justo'. São anos construindo minha carreira, são anos usando minha arte para contribuir com a sociedade e na hora que eu preciso de ajuda, porque eu estou em desequilíbrio, não é justo que nesse momento eu seja jogada fora. A minha música ajudou tanta gente a encontrar o próprio equilíbrio, por que que agora quando eu perco o meu eu não tenho o apoio? E aí vi que eu tinha o apoio dos meus fãs, que ouviram minhas músicas e que meu processo criativo é minha característica enquanto ser humano, meu dom é fazer música e ele não pode ser apagado, não posso ser resumida por episódios por falta de equilíbrio ou falta de controle emocional. Graças ao meu público eu consegui resgatar a admiração por minha própria arte".


Arthur: Karol, nos conta de onde veio a ideia do título do álbum, de onde veio o "Urucum"?


Karol: "O nome 'Urucum' veio em meio ao estúdio com amigos, estava até quebrando a cabeça buscando o nome do álbum. Estava falando sobre a importância do urucum, num momento falei que cada linha que eu escrevia eu me sentia curada, cicatrizada. Aí falei pros amigos, acho que esse álbum é vermelho, tem cheiro de floresta, quero tomar um sol de tanto que estou no estúdio, vou até passar um urucum, aí todo mundo ficou 'meu Deus é esse o nome do álbum, é urucum' e eu amei".

(Foto: Jonathan Wolpert)


Agora nos conte sobre o conceito em torno da capa, que está belíssima.


"Essa capa, feita por Alma Negrot e fotografada por Jonathan, tem tudo que o álbum representa pra mim. Ela é forte, intensa, causa um impacto. A gente faz referência à Medusa, que petrificava as pessoas quando olhavam pra ela. A intenção é que as pessoas olhem e que paralisem para refletir. Na capa é possível ver como tudo o que passei impactou até no meu semblante, que é uma coisa mais séria, com o adereço em ouro simbolizando camadas, quem sou eu entre as camadas, como você se enxerga e como você vive".

(Foto: Jonathan Wolpert)


E a parceria com o Rafa Dias, como surgiu?


"Sobre o Rafa Dias, (RDD), sempre quis trabalhar com um produtor baiano. Conheci ele há uns dois anos. Então decidi que ele deveria ser o mago do meu álbum. Pra quem não sabe, minha avó era baiana, sempre quis ter nascido na Bahia, apesar de amar e ter orgulho de Curitiba. Fui criado por uma mulher baiana e quando eu conheci o Rafa eu pensei 'é você'. O Rafa tem uma personalidade ímpar. Ele é maravilhoso, ele tem uma calma que despertou o interesse em meu cantar".


Tudo isso fica evidente já nos primeiros segundos do disco, com o toque de berimbau sintetizado que abre o caminho para “Fuzuê” e seus versos anunciando a chegada firme e incendiária: “Já vai começar o fuzuê/ Então eu vou deixar inflamar”. Noutro momento da canção, ela desafia: “Ei, cê fala com quem?/ Tem medo de que?”. A temperatura aumenta em torno do berimbau metalizado, na combustão da eletrônica de gueto, Áfricas e Brasis em suas esquinas do século XXI — som de preto, enfim.


“Se sai” brinca com a baianidade da expressão (algo como “vá embora”) pra poder falar sério sobre a crueldade leviana de quem julga. Sobre atabaques sintetizados, Karol canta, voz de rua: “Quem nunca erra/ Sempre tá por cima/ E quem tá por cima/ Finge que não erra”.


Me conte mais sobre 'Sossego', é sua música favorita do álbum?


"Sossego é uma das minhas músicas favoritas, esse álbum é um registro de acolhimento. Aqui é a Karol Conká dizendo que deseja estar no sossego. Como uma boa capricorniana eu gosto de fazer dinheiro, de ser independente, de fazer dinheiro com a minha arte. Então acredito muito que tudo que você joga acaba voltando e é verdade mesmo, o que eu joguei de bom eu recebi e o que eu joguei de ruim eu recebi também, então eu não reclamo, tudo que vai, volta".


E 'Cê Não Pode'?


"Sobre 'Cê não pode', essa música foi escrita por Jaque Patombá. Ela fez a música pro cancelamento, é uma música direcionada para o paredão do cancelamento. Embora tenha passado pelo maior paredão do país, continuo viva, continuo pisando nos palcos, continuo sendo aplaudida pelo público, continuo aprendendo com cada momento em minha vida, como sempre e continuarei transformando minha dor e minha alegria em arte. Então, o cancelamento não pode com a Mamacita, nem com a Jaque Patombá, nem com a Caroline, nem com a Karol Conká".


(Foto: Jonathan Wolpert)


Como tem sido a relação com os fãs?


"A galera fica insana quando me vê. Eu já recebia muito carinho antes mas agora é uma coisa desesperadora. Eu falo 'gente, calma'. Eles ficam muito emocionados em ver aquela pessoa que virou meme na frente deles, eles ficam felizes de me viva, eles falam isso: 'que bom ver você bem, feliz, sorrindo, viva'. Eu recebo muitos pedidos de desculpas, mas assim como eu vocês também não precisam ficar nessa roda repetitiva de desculpas porque eu entendo que é natural do ser humano a gente se irritar, se passar e querer melhorar. Então eu retribuo 3-4 vezes mais o carinho. Eu gosto do contato ao vivo, to muito feliz com o retorno ao vivo".



Num disco que nasce da experiência de Karol no “Big Brother Brasil”, “Por inteira” é exceção. Ela é uma das três canções de “Urucum” feitas antes do programa. A segunda é “Subida”, composta no fim de 2020, quando não se imaginava o que seria a participação da cantora no programa. Portanto, sua letra soa quase premonitória em versos como “A vida ensina/ Atente aos sinais” ou “Eu vejo muitos/ Se contradizendo/ Enquanto se perdem por likes/ Colecionadores de dislikes”.


A terceira música composta antes do “BBB” é “Louca e sagaz”, única do disco com produção de WC No Beat. Última faixa do álbum, ela faz uma ponte entre a Karol pré-BBB (presente nos versos desencanados de qualquer trauma, como “Sessão de hipnose com a minha raba”) e a Karol que virá (quando o ódio não for mais um assunto quente para ela). Até porque a essência se mantém: o equilíbrio entre loucura e sagacidade, que o tempo só faz refinar.


CRÉDITOS


Fotógrafo: Jonathan Wolpert (@jonathanwolpert)

Direção de Arte, Beleza e Styling: Alma Negrot (@almanegrot)

Assist. Fotografia Fernando Bentes (@fernandobentes)

Assistência de Arte: Saullo Costa da Silva (@saullocostadasilva)

Cabelos: Stefany Silva (@sttefone)

Unhas Aline Carvalho @alinecarvalhonaildesigner

Making of Josias Lunkes @josiasdl

Jóias @samuelstudio.bre@brennheisen

Figurino @minhavotinha e @estudiocena

Produção: Priscilla Paciello (@paciellopri)

Produção Executiva: Monster Movie n' Mgmt (@monstermovieph)

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