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Explicando "Sorry" da Beyoncé!

Atualizado: 27 de abr. de 2020

Entenda as referências da mitologia africana, o empoderamento feminino e a relação construída sobre a perspetiva da infidelidade no “Lemonade”.

(Fotos: Reprodução/ Parkwood Entertainment)


Pra quem acompanhou o artigo sobre "Don't Hurt Yourself", viu que a personagem "morre" em pensamento no final do vídeo. Dessa forma, aqui estamos nós, com a continuação dessa história, no quarto capítulo do "Lemonade", o "Apathy" (Apatia).

Nesse momento do álbum visual, nos é apresentado uma personagem que morre metaforicamente após ser enganada pelo marido. O vídeo se inicia com o poema "Dust to sad Chicks" de Warsan Shire. Nele, o marido em questão lamenta a morte da amada em pleno funeral. Leia um trecho:

"Então, o que você vai fazer agora que me matou? Aqui jaz o corpo do amor da minha vida, cujo coração quebrei, sem uma arma na minha cabeça. Aqui reside a mãe dos meus filhos, vivos e mortos."
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O marido em questão toma pra si que tudo que ocorreu, foi de total responsabilidade sua, ninguém o forçou a trair sua mulher. O trecho citado "mãe dos meus filhos vivos e mortos" faz referência à vida pessoal de Beyoncé, o filho que ela perdeu no aborto vivido em meados de 2010 e também seus filhos vivos.

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Jay-Z inclusive cita esse trecho em seu álbum "4:44", tido por muitos como uma resposta ao "Lemonade" da Beyoncé. Em uma das músicas ele diz: "Eu vi a inocência deixar seus olhos / eu ainda lamento essa morte, peço desculpas por todos os que não nasceram". Fica claro pra quem escuta, que se trata de uma fala pessoal. Neste sentido, Beyoncé continua

recitando o poema:

"Sua mortalha é a solidão, seu deus estava ouvindo. Seu paraíso seria um amor sem traição."

É interessante pensar que o ponto positivo em morrer neste aspecto é que neste céu, a mulher não será traída, e que encontrará outras mulheres para ajudá-la. Justamente neste momento do vídeo, somos transportados para um ritual que acontece dentro de um ônibus. Outras mulheres pintadas pela arte "Sacred Art of the Ori" guiam a personagem traída/morta com certa melancolia. Essa arte Yorubá espiritual, sintetiza a ESSÊNCIA africana feminina.

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"Sacred Art of the Ori"  yoruba Laolu Senbanjo

A arte em questão, feita pelo artista nigeriano Laolu Senbanjo, utilizou corpos femininos para retratar a sororidade e o sentimento mútuo de aceitação. No contexto do vídeo, são "forças" que ajudam a personagem a se encontrar. O poema se encerra e somos transportados para a casa de campo (a mesma citada no artigo inicial sobre Pray You Catch Me), constantemente apresentada no conjunto do "Lemonade". É a representação da "casa grande", porém sob um aspecto diferente, apresentando a dualidade do presente e do passado, que verificamos na obra o tempo todo.

Com o início da música, somos levados ao centro da casa. Beyoncé esta sentada na cadeira principal. Aqui, mais uma referência, dessa vez a Queen B presta homenagem à Serena Williams e sua capa na revista Sports Illustrated em Dezembro de 2015, onde Serena foi eleita a "atleta do ano". A própria Serena aparece no vídeo, não de forma sexual, mas de forma poderosa. Todos os flashes dela e de Beyoncé mostram um poder no olhar, como se elas dominassem suas respectivas áreas, enfatizando que as mulheres negras estão ocupando diferentes espaços de poder.

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serena williams beyonce lemonade sorry

O clipe segue com mais referências. A imagem das mulheres alinhadas ao longo do corredor, sentadas nas cadeiras, evoca os "sit-ins", um estilo popular de protesto contra a segregação, no qual a maioria dos jovens negros se sentava e se recusava a sair do local em que se situavam, lutando contra o racismo.

beyonce sit-ins lemonade sorry

A "aparência" do vídeo sugere uma série de coisas importantes além da morte. A dualidade do preto e do branco, evocam o certo e errado - vinculado à narrativa de infidelidade da música. Além disso, removendo a coloração do vídeo, se indica que que a cor não seja importante. Simplesmente, o preto e branco é associado à história e ao passado. A tinta branca, longas tranças e miçangas nas mulheres também é importante, pois sugere o passado tribal dos afro-americanos e sua origem na África.

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No meio do vídeo, somos levados à personagem sobre o ônibus, que antes ela estava no interior. Agora, assim como as demais mulheres, ela também possui pinturas em seu rosto e juntas cantam o "Boy Bye" (Adeus, garoto). É a união feminina retratada mais uma vez!

Somos levados à cena seguinte onde Beyoncé retrata “Nefertiti”, a rainha do Egito. Mais uma cena de poder feminino. Um outro ponto interessante sobre a música, é a citação de “BECKY”. Muita gente não sabe, mas esse termo em vernáculos afro-americanos significa literalmente uma “básica mulher branca”e faz referência à traição cometida por Jay-Z.

A canção vai se encerrando com a Beyoncé (personagem) reafirmando que ela é forte o suficiente para cuidar de sua filha sozinha e que força não lhe falta para seguir sua vida. Assim, o capítulo da “apatia” se encerra. É uma afirmação de que a personagem NÃO está pronta para perdoar seu amante pelo erro cometido. Como dito anteriormente, é a morte de um sentimento forte, mesmo que de forma momentânea.


No capítulo seguinte, essa personagem vai em busca do auto conhecimento, da busca pelo prazer, tentando se encontrar no mundo após a desilusão. Por isso surge “6 Inch”.



Texto: Arthur Anthunes

Revisão: Lucas Cranjo

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